ESCOLINHA DE PLACAS
Personagens: Instrutora Chefe, Auxiliar, Placa 1, Placa 2, Placa 3,
Placa 4, Motorista, Pedestre.
Cenários: Escola de placas (imaginária) e rodovia. É uma narração que
vai sendo dramatizada.
Narração:
Certa vez, quando viajava pela BR
364, rumo a Cuiabá, percebi que meu filho, de 5 anos, olhava atentamente para a
margem da rodovia, e mudava de expressão cada vez que via uma placa de trânsito
(vão passando algumas placas de advertência, representando o que os motoristas
observam nas rodovias). Até que ele me perguntou de onde as placas vinham. Não
pensei duas vezes e comecei a contar a ele a verdadeira história das placas de
sinalização. Eu disse mais ou menos assim:
Primeiro
cenário, representando uma escolinha de placas de sinalização. Surgem quatro
crianças representando aprendizes de placas de sinalização.
Em um lindo lugar, quase
inimaginável, habitavam seres maravilhosos, criaturas dotadas da mais pura
bondade, viviam felizes, não sabiam de onde vinham, somente para onde iriam.
Esses seres carregavam com eles uma
grande responsabilidade, que era ao mesmo tempo a sua única missão: Salvar
vidas.
Então eles se preparavam para isso.
Passavam seu tempo todo aprendendo, estudando e treinando, para que, quando
chegasse a hora, eles soubessem realmente o que fazer para salvar vidas
humanas.
Mas a vida desses maravilhosos seres
era dura. Bem cedinho eles aprendiam a se alimentar. Retiravam da natureza a
força para suportarem seu tempo. Eles comiam e bebiam do Sol e do ar, somente
isso lhes bastava. E passavam horas se alimentando de brisa e de calor. (as
plaquinhas se colocam de braços abertos, cabeça voltada para o alto)
Depois desse delicioso café, era
hora de treinamento, pois precisavam ficar fortes, firmes. A rotina do mundo para
onde iriam não seria nada fácil, então tinham de estar preparados. Havia uma
treinadora muito rigorosa para isso, era como aqueles sargentões antigos do
exército. (entra a auxiliar) Usava um apito e exigia um número infinito de
repetições para cada exercício. Nossas criaturinhas quase não aguentavam tanto
esforço, mas eram muito disciplinadas, sabiam que precisavam ter força para
enfrentar seu destino. E a sargentona não dava tregua, com seu apito assustador
ela comandava, e comandava, e comandava, até que, quando parecia querer parar,
começava tudo de novo, e mais exercícios, e mais, e mais, e muito mais, até que
finalmente chegava a instrutora chefe. (entra a Instrutora Chefe)
Com um ar de austeridade, sua
simples chegada já representava o sinal de saída para a sargentona, a qual
sempre tirava uma última casquinha com seu terrível apito.
A instrutora era séria, nunca
sorria. Por mais que recebesse o carinho e a admiração de nossas aprendizes de
plaquinhas. Ela sentava e passava muito tempo explicando coisas do mundo dos
homens, coisas da natureza para onde elas seriam mandadas. Ela contava coisas
boas, coisas tristes, coisas alegres, coisas estranhas, enfim, ela tentava
preparar da melhor forma possível, para que suas alunas fossem boas na tarefa
de salvar vidas.
Depois de conversar muito, a
instrutora ensinava alguns movimentos, os quais as placas devem executar no seu
trabalho. Ela demonstrava com seus graciosos braços alguns sinais, ao mesmo
tempo que mostrava como os seres humanos as veriam no mundo deles. (a Auxiliar
entra com um mural cheio de placas, para a Instrutora demonstrar as plaquinhas)
Algumas plaquinhas seriam sinais de
regulamentação, como as que indicam o sentido para onde seguir, como a placa de
SENTIDO DUPLO, para as ruas com duas mãos de direção. Depois mostrava a de SIGA EM FRENTE, ou a de
SIGA EM FRENTE OU À DIREITA, OU A ESQUERDA, ela sempre se atrapalhava um pouco
ali, mas no final sempre era entendida. Também mostrava as placas que orientavam
a proibição de dirigir naquela direção, como a de PROIBIDO VIRAR A ESQUERDA,
por exemplo, pois quem fizesse isso daria de encontro com os veículos que vem
em sentido contrário. E assim ela mostrava outras placas, como as que PERMITEM
ESTACIONAR, ou que PROIBEM O ESTACIONAMENTO. Sempre dizendo que tudo isso é
para melhor organizar o trânsito, para deixá-lo mais seguro e salvar vidas. As
plaquinhas sempre ouviam tudo com muita atenção.
A instrutora também sempre mostrava
as placas de advertência, que são importantíssimas, principalmente nas rodovias,
pois elas servem para comunicar ao motorista tudo que o espera pela frente.
Desde alertas sobre CURVAS, que podem ser perigosas, até a informação de
LOMBADAS, PONTES, HOMENS TRABALHANDO, PISTA ESCORREGADIA, e muitas outras. Tudo
para preparar o motorista para bem conduzir seu veículo no seu trajeto. (saem a
Instrutora e sua auxiliar)
Depois das aulas de sinalização, e
dos exercícios rigorosos que tiveram cedo, as plaquinhas novamente iam se
alimentar, com Sol e Ar, brisa e calor. Voltavam a cabeça para o céu, fechavam
os olhos, deixavam a luminosidade solar entrar por seus poros, ao mesmo tempo
em que absorviam o mais puro ar, o qual trazia também consigo toda a umidade
necessária para saciar sua sede.
Após o longo dia de trabalho, era
hora do merecido descanso. Ali mesmo ficavam, ali mesmo deitavam, ali mesmo
dormiam. Escurecia... Amanhecia... E ali mesmo estavam. E despertavam.
Antes mesmo de iniciarem a rotina
diária, a instrutora chefe chegou com um edital na mão. As plaquinhas ficaram
alvoroçadas, pois sabiam o que aquilo significava, era a convocação de mais uma
delas para o cumprimento de sua missão: Salvar vidas. Juntaram-se próximas da
instrutora e ouviram atentamente a leitura do edital, que dizia: "Pelo
presente instrumento, convoco, para a função vital de advertência sobre curva
acentuada à frente, a plaquinha, hoje promovida a condição de Placa, a apontada
pela instrutora chefe..." Todas esperavam com ansiedade, não tinham nomes
próprios até o momento da convocação, a
instrutora era quem indicava a mais preparada para a missão.
Sem qualquer sinal de emoção, a
instrutora apontou e destacou a plaquinha escolhida. As outras a abraçaram,
beijaram, sorriram na sua volta, e, aos poucos, se despediram, para que ela
recebesse as instruções finais, antes de seguir para o mundo dos homens.
Estando só a plaquinha escolhida, a
instrutora, juntamente com sua auxiliar, fazia os últimos preparativos,
arrumavam, ajeitavam, acariciavam a feliz plaquinha. Até o momento em que ela
recebia sua linda placa de advertência, com a qual ela indicaria aos motoristas
a existência de curva acentuada à frente, para que eles pudessem saber que
tinham de diminuir a velocidade. Com isso ela cumpriria sua missão, e salvaria
muitas e muitas vidas.
A instrutora, então, fechou os olhos
da antes plaquinha, e agora mais nova placa. (muda o cenário, passa a
representar uma rodovia) O tempo se transformou, o universo conspirou e o lugar
onde a placa se viu, quando então abriu os olhos, era outro. Ela se encantou.
Adorou. Era muito mais bonito do que os mostrados nas suas aulas. Tinha muito
espaço, mato, muita luz, muito ar. E ela finalmente conheceu a estrada, da qual
tanto tinha ouvido falar. Ficou tempos a contemplar tudo.
Mas logo começou o cumprimento de
sua missão, ouviu o barulho de um carro que se aproximava, estava rápido. Ela
então, muito feliz, mostrou-se, indicando o que teria pela frente. Ficou
maravilhada quando percebeu que o carro diminuiu a velocidade. Adorou a
sensação de salvar vidas em perigo. Logo passou uma moto, ela fez a mesma
coisa, e assim foi sua rotina. Ao final do dia ela estava que não se aguentava
de orgulho de si mesma.
Por um bom tempo ela só experimentou
alegrias, algumas vezes ela se assustava, pois alguns engraçadinhos não
diminuíam a velocidade depois de vê-la, e tomavam bons sustos com isso.
Mas nem tudo eram rosas na vida de
nossa placa. Os dias eram quentes. O Sol não tinha dó dela. Ela já sabia, tinha
treinado, mas no mundo dos homens era muito pior, parecia que os raios solares
eram contaminados. O ar também parecia não ser tão puro, até doía quando ela se
alimentava dele. Que calor! Assim ela pensava.
Para piorar a situação, ela, que
sempre era limpinha e cheirosinha na escola, volta e meia era vítima dos maus
educados da estrada. (surge m menino e faz pipi ao pé da placa) Ela odiava
quando isso acontecia.
Quando não era o calor do dia, era o
frio da noite, aliado ao seu medo. (escurece) Assustava-se com qualquer coisa.
Mas sabia que tinha de ser forte, pois estava sozinha ali. E ajudava aos
homens, mesmo na solidão da noite. (passa um carro no escuro)
E assim seguiam seus intermináveis
dias de trabalho. Ajudando a salvar vidas. Ela ficava muito feliz com isso.
Um dia aconteceu algo que a deixou
muito triste. Um carro que passava por ela resolveu parar, dentro havia dois
homens com cara de bandidos. Eles então desceram e começaram a atirar nela, até
descarregar seus revólveres. Ela ficou toda perfurada, danificada e, pior de
tudo, muito triste, pois não entendia o porquê daquilo. Ela estava ali para
ajudar, para salvar vidas. Nunca recebera um beijo ou olhar meigo que fosse por
isso, mas ser agredida foi muito doloroso para ela.
Mesmo assim ela continuava sua
missão. Se achava um pouco feia depois daquilo, mas seguia firme. Mostrando os
perigos aos homens, ajudando a salvar vidas.
O tempo foi passando, o calor muito
intenso, não chovia há um bom tempo e tudo estava muito seco. Outro
acontecimento deixou ela muito triste. Um motorista que por ali passava jogou
um toco de cigarro aceso bem perto dela. O fogo foi instantâneo. Queimou tudo
por ali, até parte dela. Sua comoção foi grande. Ela, que já se achava feia,
ficou pior ainda, perfurada e queimada. Mas, mesmo assim, seguia firme,
salvando vidas, orientando as pessoas.
Quando ela achava que nada poderia
ser pior, mais uma vez se surpreendeu com a maldade humana. Um rapaz que
passava por ali, sem motivo algum, vendo a fragilidade da pobre placa, passou a
chutá-la, até que ela não resistiu e quebrou.
O homem foi embora. Ela ficou ali, quebrada, mas tentando, ainda,
cumprir sua missão.
Mas isso já não era mais possível.
Ninguém mais enxergava sua sinalização. E lá estava ela, perfurada, queimada,
quebrada, além de ter sofrido com o calor, o frio, a chuva, a poluição... Ela
não servia mais para aquilo... Seu fim chegou.
Em um momento no qual os homens não
enxergam, ela é levada, não serve mais para a função, não salva mais vidas.
Então ela se vai. (A Instrutora e a Auxiliar entram e a carregam de volta para
a escolinha)
Vai desfigurada, chega ao seu lar,
desfigurada, mas amada, recebida com o maior carinho por todas as outras
placas, pois ela foi uma heroína, cumpriu sua missão. Salvou centenas de
milhares de vidas. Ela ali vai terminar seus dias, e outra, logo irá substituí-la
no mundo dos homens, esperando, quem sabe, uma melhor sorte e mais respeito.
Assim contei ao meu filho...
Fim.
Rogério Luís Bauer
Obs.: Por favor, informem os erros encontrados, para que eu possa
corrigir. Obrigado.
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