DEU ZEBRA
Personagens
Cacique, Pajé, Índia,
Zebra, Macaco Albino, Ana, Bolacha
CENÁRIO
Uma
estrada, uma bananeira.
Um casal de turistas dirige seu jipe por uma
acidentada estrada. Quando entram em uma curva mais acentuada, surge uma zebra
no caminho, o jipe tenta parar, mas acaba atropelando a zebra e um macaco que
estava em cima dela. Tudo acontece neste local.
Zebra:
Pelas jubas do leão careca, que foi que você fez meu filho? Tá pirado é? Olha
só meu, atropelou o macaco.
Bolacha:
(se recuperando) Humf, que aconteceu? Acho que estou pirando mesmo, até a Zebra
tá falando. Belezura, cadê você?
Ana:
(levantando) Tô aqui minha bolachinha de coco. Você tá bem?
Bolacha:
Estou sim minha rainha de bastos, e você chuchuzinho, se machucou?
Ana:
Acho que não meu biscoitinho de polvilho. Mas o que aconteceu.
Zebra:
Aconteceu que vocês não respeitaram a faixa de segurança e atropelaram o pobre
do macaco Albino.
Ana:
Bolachinha, você também ouviu a zebra falando, ou só eu estou louca?
Bolacha:
Minha vidinha, eu também ouvi sim. Já tinha ouvido antes, mas pensei que era
alucinação.
Zebra:
Vamos parar com esse draminha. E também com esse dengo todo entre os dois. E é
claro que eu falo, assim como todos aqui. E vão tratando de pensar em uma boa
explicação, porque as autoridades estão chegando.
Bolacha:
Mas Dona Zebra, eu estava dentro da velocidade limite para a estrada, e não vi
nenhuma faixa de segurança.
Zebra:
Em primeiro lugar, meu caro, o limite de velocidade existe como parâmetro para
situações normais de trafegabilidade, para dar maior segurança ao condutor e
pedestres... PORÉM, você precisa levar em conta outros fatores, como as
condições da pista, a visibilidade, etc., e quando você não conhece a estrada,
deve diminuir e prestar mais atenção ainda.
Ana: E
em segundo lugar?
Zebra:
E em segundo lugar a faixa é moderníssima, como não enxergaram? Está bem na
frente de vocês!
Bolacha:
Onde? Não estou vendo nada.
Ana:
Nem eu!
Zebra:
Dãããrrr. Sou eu, seus mocorongos. Listas brancas e pretas. Faixa móvel, vou
para onde é necessário. Sou o último grito em sinalização de trânsito.
Bolacha:
Como assim?
Ana:
Olha só meu fofinho, a zebra serve de faixa de pedestres, ela atravessa os
bichos de um lado para o outro. Sabe que até faz sentido.
Bolacha:
Mas dona Zebra, e com os elefantes, rinocerontes, hipopótamos, como a senhora
faz?
Zebra:
Ta me tirando né? Manézão! Experimenta bater com seu carrinho em um bichão
daqueles. Você acha que eles precisam de faixa?
Chega o cacique da Uacauaca, acompanhado da
índia Caquicoca.
Cacique:
Que que tá pegando?
Zebra:
Chefe Uacauaca, esse tongo aí atropelou o macaco, em cima da faixa.
Cacique:
Hum, hum, hum, Caquicoca, vai chamar pajé pra curar macaco.
A índia começa a sair quando o cacique chama
de volta.
Cacique:
Caquicoca volta, vai zebra, corre mais, traz pajé pra curar macaco.
A índia fica e vai a zebra.
Bolacha:
Sr. Chefe, eu não vi a zebra, quero dizer a faixa, muito menos o macaco. A sua
estrada está muito esburacada, tem muito mato alto na beira, nem dá pra ver as
placas.
Ana:
Isso é verdade Dr. Uacacaca.
Índia:
É Uacauaca branquela, Grande Chefe Uacauaca, da tribo dos temidos Uacacacamole.
Ana: Tá
bom desculpe. Mas Cacique, o senhor precisa cuidar melhor das estradas, estão
péssimas.
Cacique:
Menina da cidade de pedra tem um pouco de razão. Mas não é motivo principal de
acidente. Viu que estrada não é boa, diminui velocidade. Dirige com cuidado.
Índia:
É isso mesmo. Aqui na selva nunca tem acidente entre os bichos, todos se
respeitam. Cada um sabe seu lugar. O homem branquelo é que vem aqui pra
bagunçar tudo. Acha que é o dono de tudo, não respeita nada. Por isso na cidade
é aquela bagunça.
Bolacha:
Calma aí dona Caquiloca...
Índia:
É Caquicoca, branquelo, Caquicoca.
Bolacha:
Que seja, mas na cidade é tudo organizado. Tem leis, sinalização, fiscais, e
tudo mais.
Ana: É
mesmo. Quando você vai atravessar a rua, precisa usar a faixa de pedestres, só
que lá é pintada no chão. Não é tão moderna quanto à de vocês, mas já serve.
Essa faixa é a segurança dos pedestres.
Bolacha:
Além disso, existe o semáforo, que ajuda muito na organização.
Cacique:
Que ser semáforo, é bicho? Ou é pintado no chão também?
Bolacha:
Não senhor. Semáforo é uma espécie de caixa que fica pendurada no alto, onde
todos enxergam. Ela fica acendendo e apagando as luzes, pra orientar as
pessoas.
Índia:
E como funciona isso?
Ana: É
por cores. Quando acender uma luz vermelha, como esta flor (mostra uma flor)
quer dizer perigo, tem de parar.
Bolacha:
Quando acender uma luz amarela, como essa fruta (mostra a fruta) quer dizer
atenção, cuidado.
Ana: E
quando acender uma luz verde, como essa folha (mostra a folha), quer dizer
livre, pode seguir. Fácil, fácil.
Cacique:
Vermelho – perigo, amarelo – cuidado, verde – livre.
Índia:
Vermelho – pare, amarelo – atenção, verde – siga.
Índia e Cacique se olham, fazem sinal que
concordam e gostam.
Cacique:
Parece muito bom. Funciona bem?
Ana:
Quase sempre, infelizmente tem ainda pessoas que não respeitam isso.
Índia:
Mas então vocês precisam ensinar a todos. É tudo muito fácil, até os bichos
aqui da selva aprenderão rapidinho isso.
Bolacha:
Mas a gente ensina, desde pequenos, o tempo todo. Mostramos os perigos de não
respeitar. Mas, acho que essa é a questão, RESPEITAR, falta respeito entre os
branquelas.
Chega o pajé no lombo da zebra, que,
esbaforida fala.
Zebra:
Cacique, precisa fazer o pajé se exercitar mais, ele ta ficando pesaaaaaaaaado!
Ai ai ai ai ai...
Pajé:
Pajé em forma, zebra fraca. Manda cacique, qual a bronca?
Cacique:
Pajé, cura macaco Albino. Homem branquela atropelou.
O pajé olha para o Bolacha e faz sinal de cumprimento.
Se aproxima da Ana e beija a mão dela, galanteador, dizendo.
Pajé:
Mademozélie, pajé admira muito sua beleza, farei de tudo pra salvar a pele de
vocês.
Ana:
Obrigado pelo elogio, mas como assim salvar a nossa pele?
Índia:
Aqui na selva é assim, quando não cumpre a lei de trânsito, paga com a vida.
Vão para o caldeirão.
Bolacha:
(assustado) Quer dizer que vocês são canibais?
Pajé:
Sai fora branquelo! Vocês virarão sopa pra crocodilo banguela, isso sim.
Ana e Bolacha se olham assustados.
Ana:
(dengosa) Ah, seu Pajé, então faz uma forcinha aí vai, confio muito na sua
competência.
Pajé:
Deixa comigo!
O pajé pega seus chocalhos e ossos e começa a
invocar seus espíritos, dizendo palavras desconexas e fazendo uma dancinha
estranha. Olha para o macaco, que permanece imóvel. Repete o ritual várias
vezes. Até cansar. O cacique então determina:
Cacique:
Índia e Zebra, buscar caldeirão. Crocodilos banguelas vão comer hoje.
Ana e Bolacha se abraçam assustados. Chegam a
índia e a zebra com o caldeirão. Cacique faz sinal pra colocarem os dois ali.
Acendem o fogo. Todos dançam em volta. Colocam temperos e legumes. Tudo ao som
de uma batucada no fundo. De repente pára o som e o macaco se levanta,
desorientado.
Macaco:
Quem sou eu? Onde estou? O que aconteceu?
Zebra:
Você foi atropelado quando atravessava a rua.
Macaco:
Mas eu estava na faixa de segurança, não estava?
Zebra:
Sim, em cima do meu lombo.
Macaco:
Como pode então?
Zebra:
Esses dois branquelos estavam correndo demais. Não pararam a tempo. Não
respeitaram o limite. Estavam sem o cinto de segurança também. Ela até foi
arremessada, não sei como não morreu.
Macaco:
Mas e você zebra, como não se machucou?
Zebra:
(disfarçando) Eu sou a faixa de segurança. Faixa móvel, o último grito em
segurança, oras.
Cacique:
(desconfiado) Hum, hum, hum. Hum, está história está mal explicada. Como pode o
macaco se machucar assim, os branquelas também, e você não sofrer nenhum arranhão?
Índia:
É verdade. Explique-se zebra!
Pajé:
(para o macaco) E você macaco? Olhou para os lados antes de atravessar a rua,
como todo mundo deve fazer sempre?
Macaco:
Não me lembro, acho que não deu tempo, eu subi na faixa e ela se foi rápido, não
me lembro de mais nada.
Ana:
Seu cacique, deixa a gente sair daqui, ta ficando quente...
Cacique:
Podem sair, por enquanto. Mas quero saber dessa história direitinho.
Bolacha:
Grande chefe, agora me lembro, foi logo depois da curvinha, a zebra surgiu do
nada, atravessou correndo na minha frente, tentei parar, até perdi o controle
do carro e tombei. Mas acho que não bati neles.
Ana:
Também estou lembrando, não batemos mesmo, você saiu da estrada pra não acertar
neles.
Zebra:
Eu confesso! Foi culpa minha. Eu queria que meu trabalho fosse reconhecido.
Ninguém queria mais usar a faixa móvel. Então comecei a ser mais rápido.
Relaxei. Eu deveria ter cuidado. Não olhei para os lados antes de atravessar.
Me assustei quando vi o carro já em cima. Dei um salto e o macaco caiu do meu
lombo. Inventei isso tudo pra não perder meu emprego. Desde que a loteria
esportiva me dispensou, eu não arrumava um trabalho tão legal.
Ana: E
nós iríamos virar sopa por sua causa né?
Pajé:
(galanteador) Isso pajé não deixaria, logo logo os espíritos me revelariam a
verdade, e eu tiraria vocês do caldeirão.
Bolacha:
Logo logo é? Eu já estou meio cozido, se quer saber. Sem falar o peso na
consciência. Já estava achando que tinha matado o pobre macaquinho.
Ana: E
olhem nosso carro. Como vamos embora?
Zebra:
Me perdoem, por favor? Vocês todos. Cacique, pode me expulsar, vou procurar
outra selva.
Cacique:
Cacique saberá o que fazer, mas primeiro quer ouvir o que vocês aprenderam com
essa lição de hoje.
Macaco:
Aprendi que devo olhar para os lados antes de atravessar a rua. Prestar atenção
no movimento. Ser responsável e ficar sempre alerta, tenha sinalização ou não.
Índia:
Descobri que semáforo serve pra orientar o trânsito na cidade. Fica pendurado
no alto. Todos podem ver. Quando acende a luz verde (mostra a folha) quer dizer
que você deve seguir; quando aparece a luz amarela (mostra a fruta) quer dizer
que devem prestar atenção e quando surge a luz vermelha (mostra a flor) significa
que devem parar.
Ana:
Devo sempre usar o cinto de segurança, mesmo em estradas de terra e em
velocidade baixa, pois em caso de acidente, ele vai impedir que eu seja
arremessada. Hoje eu dei sorte, pois estava devagar e caí em cima de um monte
de folhas, mas na cidade um acidente assim pode ser fatal.
Bolacha:
Como condutor, devo dirigir sempre com atenção. Observar a sinalização e
controlar a velocidade. Devo ter mais cuidado quando não conheço a estrada. A
minha vida e de outros a minha volta dependem muito de como me comporto como
motorista.
Zebra:
Devo ser prudente no trânsito. Não dá pra esquecer nenhuma norma de segurança.
Nem sempre temos outra oportunidade.
Pajé:
Todos devem respeitar as normas de trânsito, pois foram feitas para organizar o
movimento e tornar nossa vida melhor.
Cacique:
Parece que todos aprenderam a lição. Cada um precisa fazer sua parte para que o
trânsito seja realmente seguro. Vou liberar os branquelas e dar uma segunda
chance pra zebra, só que desta vez ela vai cuidar só da escolinha de girafas.
Agora vamos colocar mais legumes no caldeirão e terminar a sopa dos crocodilos
banguelas. (música e todos dançam em volta do caldeirão)
FIM
Rogério Luís Bauer
Obs.: Por favor, informem os erros encontrados, para que eu possa
corrigir. Obrigado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário