sexta-feira, 26 de julho de 2013

PEÇA - NO REINO DE BELELÉ

Peça de teatro com temática de trânsito.

NO REINO DE BELELÉ

Personagens: Rainha Belelé, Mensageiro, Lili, Clara, Paty Black, Paty Pink, Paty Blue.
Cenário inicial, um trono muito enfeitado, onde cochila a rainha. Trata-se de um reino fictício. Entra o mensageiro correndo e gritando como maluco.

MENSAGEIRO: Majestade, majestade, acorde! Majestade, majestade, acorde, acorde!

RAINHA: (acorda assustada e cai do trono) Que foi? Meu Deus do céu, não se pode nem tirar uma sonequi... (disfarçando) quero dizer fechar os olhos e refletir sobre os problemas do nosso reino, desse jeito vamos de mal a pior aqui. O que está acontecendo mensageiro?

MENSAGEIRO: Majestade chegou mais um.

RAINHA: Mais um? Assim não dá, onde vamos colocar todo esse povo? Aqui não é a casa da mãe Joana, não existe esse negócio de “sempre cabe mais um”. A lotação máxima deve se obedecida.

MENSAGEIRO: Mas majestade, é assim que funciona. Quando se envolvem com acidentes de trânsito lá, eles acabam vindo para o Beleléu.

RAINHA: Mas o Beleléu não é o único lugar no fim do mundo meu caro Tuco Tuco. Eles também podem ser mandados para o reino “O raio que o parta”, para o “Vai ver se estou na esquina”, também podem ir para o reino do “Vá te catar”.

MENSAGEIRO: “Vá te catar” fica antes ou depois do “Se ferrou”?

RAINHA: Ao lado Tuco Tuco, mas ao lado sul, pois no norte está o reino de “Que foi que eu fiz?”. Mas ultimamente parece que só existe o nosso reino. Todo mundo está vindo para o Beleléu. Mas mande entrar o próximo, vamos ver o que ele tem pra falar.

MENSAGEIRO: Sim majestade.

O mensageiro sai e retorna com outra pessoa. O mensageiro coloca essa pessoa parada, distante do trono da rainha e faz orientações ao pé do seu ouvido. Depois posta-se do outro lado do trono e  anuncia:

MENSAGEIRO: Diante do trono da Nobre Majestade Magnífica Excelência Soberana do Reino do Beleléu, a Por Todos Amada Rainha Belelé Terceira, apresentar-se-á a recém chegada senhorita Lili Legal.

 Lili Legal então se aproxima.

LILI: Com licença! Aqui é o céu, a senhora é Deus?

Mensageiro e Rainha se olham e balançam a cabeça, como se já tivessem ouvido isso milhões de vezes.

RAINHA: (indignada) Mensageiro! Repita o ritual.

MENSAGEIRO: Sim majestade.

O mensageiro conduz Lili Legal até o lugar onde este estava anteriormente, torna a falar ao pé do ouvido e segue para o outro lado do trono, onde repete o anúncio.

MENSAGEIRO: Diante do trono da Nobre Majestade Magnífica Excelência Soberana do Reino do Beleléu, a Por Todos Amada Rainha Belelé Terceira, apresentar-se-á, recém chegada senhorita Lili Legal.

RAINHA: Pronto seu Zé Legal, outra pergunta?

LILI: Hummmm! Mas se a senhora não é Deus, quem é a senhora?

RAINHA: Você é surda, minha jovem?

LILI: Não senhora.

MENSAGEIRO: (interrompendo) Por favor Lili, conte o que você fez para vir parar aqui.

LILI: Eu não fiz nada. Só me lembro de que meu pai estava saindo de carro, para fazer compras no mercado. Eu insisti para ir com ele. Ele disse que estava com pressa, pois tinha muita coisa pra fazer, que não gostava de fazer compras, que minha mãe não ajudava em nada, que o salário dele era baixo, e outras broncas mais. Ele tava tão estressado que nem se importou quando subi no banco da frente, e o que é mais massa, sem o cinto. Daí eu pude mexer no som e no porta luvas à vontade. Foi legal, coloquei o som bem alto, meu pai tava correndo bastante, fechei os olhos pra curtir e... Bom, depois só me lembro do barulho de uma freada forte... não me lembro mais nada.

RAINHA: Essa freada veio antes da colisão. Seu pai não respeitou o limite de velocidade. Não conseguiu parar a tempo de evitar o impacto. 

MENSAGEIRO: Você estava sem o cinto de segurança. Foi arremessada a mais de 30 metros e bateu com a cabeça em uma guia de calçada. Você não aguentou, por isso veio para o Beleléu. Seu pai estava fora da velocidade permitida.

LILI: Eu morri, fui para o Beleléu?

RAINHA: Sim, você veio para o Reino do Beleléu. Você não foi a culpada do acidente, mas já tinha idade para entender que precisa usar o cinto de segurança. Se estivesse com ele, teria mais chances de estar viva ainda.

LILI: (agitado) Eu morri? Não posso ter morrido! Tem jogo sábado, como vão ficar sem mim? Sou a capitã do time! A alma guerreira do meio campo. A craque da equipe!

MENSAGEIRO: E a dona da bola também...

LILI: É! Isso também... Como você sabe?

MENSAGEIRO: Sabendo minha jovem, sabendo, monitoramos tudo daqui.

RAINHA: Você vai ficar um tempinho aqui, fazendo serviço comunitário. Depois, quando desocupar uma vaga no andar de cima, mandaremos você pra lá.

LILI: Mas Dona Rainha, e meu pai? Ele também foi pro Beleléu, quero dizer, veio pro  Beleléu?

RAINHA: Seu pai cometeu infrações gravíssimas nas leis do seu mundo. Além de excesso de velocidade, de não usar e não obrigar você a usar o cinto de segurança, ele ainda estava com o carro em péssimo estado de conservação e segurança. Os freios estavam horríveis e os pneus quase carecas.

LILI: Pera lá dona Rainha, os pneus eram novos, eu vi ele comprando do Tonhão borracheiro. Pneu bonito e mais barato que na loja.

MENSAGEIRO: Era pneu mascarado, disfarçado. Pneu velho, maquiado, pra enganar a polícia. Mas sem segurança nenhuma. Isso se chama “riscagem de pneus”. O borracheiro esquenta um ferro e afunda as marcas do pneu, pra ele parecer novo. Mas só que ele deixa o pneu mais frágil ainda, pode até explodir por qualquer pedrinha.

LILI: Nossa! Morri por besteira... Quero falar com meu pai, cadê ele?

RAINHA: Ele não veio pra cá.

LILI: Ué? Mas quem morre não vai, vem pro Beleléu?

RAINHA: Nem todos, cada um tem um caminho, conforme a vida que teve lá. Mas seu pai não morreu, ainda. Decidiram que ele vai ficar mais um tempo lá, pra reparar um pouco dos erros dele.

LILI: Bonito! Meu pai que perde os pontos e eu que fico sem a carteira!

MENSAGEIRO: Mas não se assuste, você vai entender. Agora vamos, que não pára de chegar gente aqui.

LILI: Com licença dona Rainha! Ah, gostei do chapéu da senhorita!

RAINHA: Obrigado! Mas é “coroa” minha filha, “coroa”.

COISA: Coroa? Desculpe, é que a senhora parece tão jovem, licença. (sai)

RAINHA: Hummm, o que ela quis dizer com isso? Ah, deixa pra lá. Tuco Tuco chame o próximo, e deixa esse negócio de ritual de lado, senão vamos passar mais que a eternidade aqui, se é que isso é possível.

MENSAGEIRO: Sim majestade.

O mensageiro sai e volta com três meninas, do tipo “patricinhas exageradas”, que são: Paty Pink, Paty Black e Paty Blue. As três entram ao estilo escandaloso.

PATY PINK: Uô uô, olha que lugar passado patys, que isso? Parece o brick da minha vó Henriqueta, credo!

PATY BLUE: É mesmo, é pra deixar qualquer um bolado! Paty blue, olha a roupa desse mauricinho! É SOS total!!! (risos)

PATY BLACK: E olha a roupa dessa barangueti, tá ruim hem! (risos) Desse jeito não deixam ela entrar na selva. Que tu crê Paty Blue? (mais risos)

PATY BLUE: Só se ela ficar pagando sapo na porta, até pintar um mané pra zoar com ela... (risos) Concorda Paty Black?

PATY BLACK: Isso é de lei. (risos)

PATY PINK: Nossa! Mas vocês tem a MP, credinho! Ainda bem que sou  BFF das duas! (risos) E quero morrer assim.

MENSAGEIRO: E conseguiu minha jovem!

PATY PINK: Olha! O João Bobo fala! (risos)

MENSAGEIRO: Por favor, meu nome é Tuco Tuco, e sou o mensageiro do Reino de Belelé, desde os áureos tempos.

PATY BLUE: (debochada) “meu nome é Tuco Tuco, e sou o mensageiro do Reino de Belelé, desde os áureos tempos”, kkkkkkkkkk, parece um robozinho, que manézão!

PATY BLACK: Reino de Belelé? Que pagode é esse? Explica direito isso daí ou vamos pirar na batatinha!

RAINHA: Um pão, de boa pinta, chamou a patota de vocês pra um passeio supimpa pra dedéu. Vocês entraram na onda e montaram no carango dele. Só que o batuta não era tão barra limpa assim, e botou pra quebrar. Pisou fundo, arrebentou a boca do balão e vocês se lascaram, dançaram... Sacaram? Xuxu beleza?

As três patys se olham, como se não entendessem nada. Depois riem muito da Rainha.

MENSAGEIRO: (para a Rainha) Majestade, essas coisas não são mais faladas, são gírias antigas, elas nem sabem o que significa.

PATY BLUE: Deixa de ser mala e desgrila pra gente. O que a madame falou aí?

PATY BLACK: Esse negócio não é nada animal, tô ficando nervosa.

PATY PINK: Calma. Deixa ele explicar, não deve ser nada de mais, fala aí moço, que eu também estou me assustando já.

MENSAGEIRO: Traduzindo, não para o idioma de vocês, mas irão entender. A Rainha Belelé Terceira, Soberana do Reino do Beleléu, disse que vocês foram convidadas por um jovem de boa conversa para uma voltinha de carro. Ele saiu da linha e vocês sofreram um acidente.

PATY BLACK: Como assim saiu da linha?

PATY PINK: Como assim acidente?

PATY BLUE: Nós morremos?

RAINHA: Sim meninas, vocês morreram no acidente.

As três se olham colocam a mão no rosto, gritam e correm uma pra cada lado, depois voltam, se olham, se tocam, tocam nas outras, gritam e saem correndo novamente para todos os lados, enquanto a rainha e o mensageiro esperam pacientemente. As três voltam e se colocam a chorar diante da rainha.

PATY BLUE: Isso deve ser um caô!

PATY BLACK: Eu quero meus gerentes!

PATY PINK: Queimaram nosso filme!

RAINHA: Agora não adianta chorar, por isso que devemos ser sempre precavidos. Devemos ter cuidado e cautela em tudo na nossa vida, principalmente no que diz respeito ao trânsito.

MENSAGEIRO: Vocês entraram no carro. O rapaz estava bebendo. Em um cruzamento, o entre aspas amigo de vocês, provocou outro condutor, também jovem, que estava sozinho. Chamou para um racha bem no centro da cidade. Ele era do tipo bom garoto...

PATY BLUE: Ele se chamava Ricardo e não queria apostar..

PATY BLACK: Mas o Marcelo provocou ele tanto, chamou de mariquinha, boióla, e outras coisas mais, mesmo assim ele resistia..

PATY PINK: Até que o Marcelo disse que daria uma de nós para o Ricardo, se ele ganhasse..

PATY BLUE: Eu me ofereci..

PATY BLACK: Eu também..

PATY PINK: E eu também..

PATY BLACK: O Ricardo aceitou..

PATY PINK: O Marcelo riu..

PATY BLUE: Nós também..

PATY PINK: Os dois carros arrancaram juntos..

PATY BLUE: Em alta velocidade..

PATY BLACK: No início eu estava adorando..

PATY PINK: Eu fiquei eufórica..

PATY BLACK: Eu queria ganhar, mandava o Marcelo acelerar mais e mais..

PATY BLUE: Eu queria perder, pra ir pro carro do Ricardo..

PATY BLACK: O ponteiro já tinha passado de 160..

PATY PINK: Mas o Ricardo era quem tava na frente..

PATY BLUE: Eu gritei: Uhuhuhuuuuuu!!

PATY BLACK: Marcelo acelerou mais ainda..

PATY PINK: O Ricardo também..

PATY BLUE: O Ricardo iria vencer..

PATY PINK: Nos aproximávamos cada vez mais do cruzamento..

PATY BLUE: Um caminhão baú iria cruzar por ele, e tinha preferência..

PATY BLACK: Marcelo hesitou..

PATY BLUE: Ricardo não, seguiu firme..

PATY PINK: O caminhão também estava rápido, começou a buzinar..

PATY BLACK: O cruzamento estava cada vez mais perto..

PATY PINK: Marcelo começou a frear e perdeu o controle do carro..

PATY BLUE: Ricardo acelerou mais, pra passar no cruzamento antes do caminhão..

PATY BLACK: Marcelo se chocou contra a mureta que divide a avenida..

PATY BLUE: Ricardo colidiu-se com o caminhão baú.. Morreu na hora, o caminhão tombou, vi alguém ser arremessado da cabine..

PATY BLACK: Marcelo morreu.. Eu também..

PATY PINK: Eu também..

PATY BLUE: Eu também..

As três se abraçam..

RAINHA: Mensageiro, leve as três para a sala de consolo, mais tarde falo com elas.

MENSAGEIRO: Sim majestade. (para as três) Por aqui minhas jovens.

A Rainha pega um telefone.

RAINHA: É Belelé, Rainha do Beleléu, passa pro Senhor, por favor. Tá bom... Ai que musiquinha chata!! Poderia colocar uma coisa mais animada, pareceu velório, credo... Senhor! Ah, desculpe, estava pensando alto e... Eu sei que o senhor também ouve quando penso baixo, é modo de dizer, tá bom, eu sei que o senhor tá brincando comigo, kkkk. Senhor, é o seguinte, tá difícil aqui no Beleléu, não tem mais lugar pra guardar ninguém. Não, não quero mais espaço, eu gostaria que o senhor fosse lá de novo e desse uma conversada com eles e... Como? Eu sei que o senhor está presente lá todos os dias, sei, sei que o senhor deixa a escolha para eles.. Mas esse povo não aprende.. Tá bom, eu sei que o senhor acredita neles mas... Hem? Um dia eles vão saber decidir? Tá bom senhor, não tenho como argumentar assim. Obrigado senhor, para o senhor também, fique com, fique consigo mesmo, até mais. (desliga, chega outra menina, com cara de sono, segurando um ursinho) Aff, enquanto isso, sigo com meus atendimentos. (para a menina) Se aproxime moça... Como é seu nome?

CLARA: Meu nome é Clarinha. Eu tô procurando meu pai, acordei e não acho ele, a senhora sabe onde ele está? Ele meio gordinho, quero dizer gordinho, ah, tá bom, bem goooordo. É careca, mas só em cima, e usa um boné vermelho. Ah, e tem um bigodinho bem ralo. A senhora viu?

Entra o mensageiro, interrompendo.

MENSAGEIRO: Oh! Desculpe majestade, demorei demais com as meninas na sala de consolo. Essa daí é a Clara, que...

RAINHA: Ela já se apresentou Tuco Tuco, pode deixar as formalidades de lado. Qual é a história dela?

CLARA: Eu só quero meu pai, não tem história nenhuma. Ele é caminhoneiro..

MENSAGEIRO: Que dirige um caminhão baú.

CLARA: Isso mesmo, o senhor viu ele? Ele também está nessa sala do consolo?

RAINHA: Não menina, essa sala é um lugar para acalmar as pessoas, para fazer com que elas se acostumem a sua nova situação.

MENSAGEIRO: Seu pai não está aqui. Ele ainda está entre os vivos.

CLARA: Claro que ele está entre os vivos ora. Por que não estaria? E por que você está falando assim? Só se “nós” não estivéssemos entre os vivos. E... (dando-se por surpresa) Espera um pouco, o que você quer dizer com isso, onde estou?

RAINHA: Você no Reino do Beleléu. Eu sou A Rainha Belelé e este é meu fiel mensageiro Tuco Tuco.

CLARA: Ah bom! Pensei que eu tivesse morrido, ufa! Também, do jeito que vocês falam, assim é que vão me matar mesmo, mas é do coração.

Rainha e Mensageiro se olham.

RAINHA: De quem é a vez de falar agora, sua ou minha?

MENSAGEIRO: Acho que agora é sua vez majestade.

RAINHA: Não é não, pode falar você.

MENSAGEIRO: Isso sempre acontece, não sei por que ainda entro nessa. (para Clara) Menina, vamos voltar um pouco no tempo, pense no momento em que despertou pela última vez, na sua cama, quando começou a arrumar sua mochila, pegou seu ursinho e...

CLARA: Minha escova de dentes, minha toalha, algumas roupas. Eu estava tão feliz, meu pai me chamou pra viajar com ele. Saímos cedinho, o Sol ainda demorou um tantão pra aparecer. Quando entramos no caminhão ele disse pra eu dormir, pois ainda tava cedo. Eu disse que não, não queria perder nada da viajem. Minha primeira viaje com meu pai caminhoneiro, barrigudo e careca, lindo! Minha mãe nem queria deixar, disse que estrada não era lugar de mulher. Mas eu gosto, se não for professora, vou ser caminhoneira. Foi um dia mágico, comprido. Aquele estradão que não acabava nunca. Nem liguei pros buracos, meu pai que reclamava. Dos buracos e da falta de sinalização. Reclamava também dos motoristas que forçavam ultrapassagem. Aprendi muito com meu pai. Ele me disse que quando tem terceira faixa na estrada, o caminhão deve ficar sempre à direita, apesar de que vi um monte de carreta usando a do meio. Meu pai disse pra gente ser amigo na estrada, respeitar e ser honesto. Meu pai é meu herói. Meu pai prometeu que a gente ia dormir na estrada. Paramos em um posto enorme, um monte de carretas. Tinha outras crianças e mulheres. Vou até contar pra mãe, pra ela ir junto na próxima viajem. (mudando) Mas... lembro que meu pai atendeu o celular, falou um monte, tirou o sorriso do rosto e disse pra mim que teríamos de continuar a viagem mais um pouquinho, apesar da hora. Nem liguei. Meu pai foi em uma farmácia, disse que ia pegar um remédio pra dor de cabeça. Seguimos viajem. À noite é ruim, tudo escuro, perigoso. Meu pai nem falava mais comigo. A viajem parecia não ter fim, até que dormi... Só lembro de meu pai passando a mão em meus cabelos e dizendo: Boa noite filha, te amo! Não lembro de mais nada.

MENSAGEIRO: Você adormeceu, seu pai seguiu rodando à noite toda. O patrão foi quem ligou, dizendo que ele tinha de entregar a carga antes do dia amanhecer, ou perderia o emprego. Seu pai tomou um remédio pra não dormir, chamado rebite. Depois de mais de 20 horas na estrada, seu pai já não estava mais tão consciente, a droga deixou ele acordado, mas também deixou irritado, nervoso e impaciente, queria chegar logo, e, já na cidade, a poucos quilômetros do destino, em um cruzamento, um carro colidiu com o caminhão que seu pai guiava, ele perdeu o controle, você que dormia e estava sem o cinto de segurança, foi arremessada, ainda abraçada a esse ursinho.

RAINHA: A culpa não foi sua, mas você também morreu nesse acidente.

CLARA: Isso não é justo! Eu quero viver mais, quero ficar perto da minha mãe. Quero voltar lá e dizer pro meu pai não tomar esse remédio, pra ele não viajar de noite. Não importa se perder o emprego. Manda eu de volta pra lá Rainha, por favor, eu imploro!

RAINHA: Não há possibilidade de fazer isso querida.

CLARA: Me dá outra chance, por favor, eu não fiz nada errado.

RAINHA: Sinto muito mesmo. As oportunidades surgem antes das decisões. Cabe a cada ser humano respeitar todas as leis e escolher o caminho correto. Os prejuízos podem recair até nos inocentes, como no seu caso.

Entram as Patys e Lili Legal, se juntam à Clara, sentam à frente do palco.

LILI: Eu queria viver mais, sou jovem pra morrer, não fiz nada. Queria voltar, colocar o cinto de segurança e dizer pro meu pai não correr e cuidar da segurança do carro..

PATY PINK: Se pudesse voltar, pediria pro Marcelo não beber, nem correr..

PATY BLUE: Pediria pra ele não provocar o Ricardo. Para o Ricardo não aceitar, ele não precisava provar nada pra ninguém.

PATY BLACK: Eu nem entraria nesse carro. Iria pra casa, ficaria com minha família.

CLARA: Eu pediria pro meu pai sair daquele emprego. Ele é um bom homem, seu chefe não merecia ele.

MENSAGEIRO: (ao público) Quando há imprudência no trânsito, até os inocentes são condenados.

RAINHA: (ao público) Como tantos outros, esses jovens não terão outra chance, mas vocês ainda tem. Decidam por fazer sempre o certo.


Fim.

Rogério Luís Bauer

Obs.: Por favor, informem erros encontrados, para que eu possa corrigir. Obrigado. 

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