sexta-feira, 26 de julho de 2013

PEÇA - CRIANÇAS LEGAIS

Peça de teatro com temática de trânsito.

CRIANÇAS LEGAIS

PERSONAGENS: MEL, JÚNIOR. NICO, RITINHA, MARCINHA, BOBI, PEDRINHO

Esta peça representa o modo como as crianças enxergam nosso trânsito, de acordo com sua perspectiva. Proporciona discussão e reflexão sobre temas do nosso dia a dia no trânsito, orientando e educando.
O cenário inicial é o de um parquinho, ou uma praça. Ponto de encontro de crianças de uma localidade qualquer. As crianças vão chegando e montando o cenário com flores e objetos relativos ao trânsito, como semáforo, faixa, placas, e cada uma vai encontrando um lugar para se acomodar e brincar.

Primeiro chegam duas meninas, Marcinha e Ritinha. Cada uma com uma boneca.

MARCINHA: Ritinha vamos brincar ali perto das flores? Adoro sentir o cheirinho delas. 

RITINHA: Vamos sim, Marcinha, também gosto de ficar perto delas. São tão lindas. Se eu não fosse gente, queria ser uma flor.

MARCINHA: É mesmo? Que flor você gostaria de ser, se não fosse gente?

RITINHA: Acho que eu gostaria de ser um girassol, é tão grande, e tão bonito e dizem que se movimenta para o lado em que está o Sol. E você? Gostaria de ser o que, se não fosse gente?

MARCINHA: Sabe que eu nunca pensei nisso, mas poderia ser uma flor também. Só que acho que iria quer ser uma que tivesse espinho, pra ninguém me arrancar.

As duas riem enquanto brincam com as bonecas. Nisso entram dois meninos. Um deles segurando uma bola de futebol.

PEDRINHO: Eu quero ser igual o Rosnaldinho.

BOBI: (interrompendo) Que isso? Ele é tão feio! O pessoal ia rir de você lá na escola.

PEDRINHO: E daí? Ele joga demais. Não tô nem aí para os outros. Se eu jogar igual ao Rosnaldinho, vou ser o melhor jogador do mundo. Igual ele! E você?

BOBI: Eu o quê?

PEDRINHO: Quer ser igual a quem quando você crescer?

BOBI: (pensando) Hum! Hum! Acho que se for igual ao meu pai ta bom.

PEDRINHO: Seu pai é jogador?

BOBI: Meu pai? (rindo) Só se ele estiver com a bola dentro da barriga. (fazendo o sinal de que é gordo)
Os dois riem.

PEDRINHO: Então por que você quer ser igual ele?

BOBI: Ah! Sei lá! Acho que a vida dele é folgada. Ele passa o dia fora, não precisa ouvir as broncas da mamãe. Quando está em casa, fica só na frente da TV, sentado, comendo, bebendo e mandando. Só de boa! E o seu pai? Faz o quê?

PEDRINHO: Meu pai é motorista de caminhão. Passa mais viajando do que em casa. Eu até preferia que ele fosse parecido com o seu, que ficasse em casa todo dia. Mas ele precisa trabalhar.

BOBI: Deve ser legal dirigir caminhão.

PEDRINHO: É sim. Já viajei com ele. Mas é muito perigoso também. Tem gente que rouba os caminhoneiros. Tem lugar que tem muito buraco na estrada. Meu pai reclama muito.

BOBI: Coitado! Mas, vamos jogar bola ou não?

PEDRINHO: Demorou!

Os dois vão para um canto onde ficam jogando a bola um para o outro. Em seguida entram mais duas crianças. A primeira em uma moto (pode ser imaginária ou de papelão). A segunda em um carrinho (tembém pode ser imaginário ou de papelão).

NICO: (buzinando sua “moto” e se imaginando dirigir, dando voltas no palco) Bi, bi, bi! Vou passar, com licença!

JUNIOR: (se imaginando dirigir, só que mais agressivamente, fazendo um barulho de ronco de motor) Ran, ran, ran, rannnnnnnnn! Saiam da frente! Chegou o dono da rua! Vou passar por cima.

Nico e Junior param um ao lado do outro, na frente do palco.

NICO: Por que você ta dirigindo assim? Tem que respeitar os outros. Você não sabe que a rua é de todo mundo?

JUNIOR: Ih! Que isso doido? Meu carrão é o mais forte. O resto tem que sair da frente pra eu passar. Mas se quiserem ficar olhando eu deixo.

NICO: Não pode ser assim Junior! Se não dirigir direito pode machucar quem tá a pé, ou de moto, ou de bicicleta. Meu pai sempre diz que o melhor motorista é o que respeita o trânsito.

JUNIOR: Eu sei disso Nico! Tô só brincando com você. Também acho que devemos nos respeitar. Respeitar os animais, respeitar os guardas, respeitar os velhinhos e até respeitar as coisas.

NICO: Respeitar as coisas! Como assim?

JUNIOR: A gente tem que respeitar as coisas que nos ajudam.

NICO: (interrompendo) Não tô entendendo!!!

JUNIOR: Presta atenção! Tá vendo aquela coisa ali no chão (aponta para um semáforo sucateado)?

NICO: Sim, a sinaleira. Mas ela tá estragada.

JUNIOR: Eu sei Nico, essa aí sim, mas tem outras na cidade que estão funcionando ainda. E nós devemos respeitar elas, pra saber a hora certa de atravessar a rua. Entendeu?

NICO: É mesmo! E você sabe o que significa cada cor?

JUNIOR: Sei sim. Meu pai me ensinou. Quando está verde quer dizer que é para passar. Quando fica vermelho é porque tem que parar. E quando passa no amarelo, é porque a gente tem que prestar atenção.  É bem fácil.

NICO: Deixa eu ver se entendi: Verde, pode passar. Vermelho, tem que parar e amarelo é pra prestar atenção.

JUNIOR: Isso mesmo!

NICO: Mas pra prestar atenção no quê?

JUNIOR: Prestar atenção que vai ficar vermelho, e que tem que esperar até ficar verde.

NICO: Hum! Vermelho, pare. Verde, siga. Amarelo, atenção.

JUNIOR: Isso mesmo. Parabéns!

NICO: Obrigado!

JUNIOR: Por nada! Que acha da gente fazer uma apostinha?

NICO: Como assim?

JUNIOR: Vamos jogar uma corrida e ver quem chega primeiro. Quem chegar por último é mulher do padre.

NICO: Ah, não! Eu não gosto dessas brincadeiras.

JUNIOR: Tem medo de perder é?

NICO: Claro que não!

JUNIOR: Então vamos? Medroso! Medroso! Medroso! (zombando)

NICO: Medroso é? Vou acabar com você! Quero ver que vai ser mulherzinha do padre dessa vez. (sentindo-se desafiado)

JUNIOR: Beleza! Encosta aqui! Quem chegar na esquina primeiro ganha!

NICO: Eu! Você quer dizer.

Colocam-se lado a lado, fazem barulhos imitando o motor, como se fosse iniciar um racha, quando, de repente surge uma terceira criança apitando.

MEL: Mas o que é isso? Que coisa mais feia! Dois motoristas habilitados, que passaram por teste psicológico, exame de visão, prova de legislação, aulas práticas de direção, etc., etc., etc., dando esse péssimo exemplo aqui na rua. Vou multar vocês.

Os dois meninos se olham sem saber o que fazer, até que Junior fala.

JUNIOR: Que isso? Quem é você? Do que tá falando?

MEL: Meu nome é Mel, sou a guarda de trânsito mirim, a maior autoridade no assunto em toda a região. E agradeçam a Deus por eu ter chegado a tempo de impedir que acontecesse uma tragédia aqui.

NICO: A gente só ia disputar uma corridinha.

MEL: É assim que começa meu querido. Um desafia o outro. Não pensam em mais nada além de ganhar o racha. Não prestam atenção nos perigos. Esquecem das outras pessoas que usam a rua, afinal vocês não estão em um autódromo. Nem se preocupam que o carro não é de corrida, não é preparado pra isso. Vocês não são preparados pra isso.

JUNIOR: Não ia acontecer nada.

MEL: Esse é o maior problema! A inconsequência. Quem age assim acha que os acidentes só acontecem com os outros. No trânsito a gente não deve pensar assim. Devemos sempre ser cuidadosos. Todos. Quem tem um veículo nas mãos deve ser consciente da responsabilidade que carrega. E quem anda a pé, ou de bicicleta, deve ter atenção sempre. Cada um tem que fazer sua parte.

O discurso de Mel chamara a atenção das demais crianças que estavam no parque, as quais se aproximaram.

RITINHA: Onde você aprendeu tudo isso?

MEL: Na cidade onde eu morava tinha um projeto de guarda de trânsito mirim. Meu pai ajudava a dar aulas. Desde pequenininha eu assistia as aulas, até que ele me matriculou lá.

JUNIOR: (interrompendo) Mas você ainda é pequenininha.

Todos riem.

MEL: Engraçadinho você né? Mas pelo menos eu aprendi bastante coisa lá.

MARCINHA: Ensina a gente?

RITINHA: Tenho uma idéia melhor. Vamos brincar que você é nossa comandante, daí aprendemos o que você aprendeu lá.

MEL: Hum! Está bem. Mas vocês tem de concordar em fazer tudo que eu mandar, aceitam?

Todos se olham e, depois de algum tempo, sinalizam que  concordam.

MEL: Muito bem! Vamos primeiro aprender um pouquinho de Ordem Unida.  (para Júnior) Como é seu nome?

JUNIOR: (com ar de conquistador) Junior, mas pode me chamar de Juninho se quiser.

MEL: (indiferente) Junior está bom mesmo. Fique aqui na frente. (coloca ele na frente para depois organizar os outros em duas filas e três colunas). Isso. E você, como é seu nome?

BOBI: Meu nome é Bobi.

MEL: Bobi, fique atrás do Junior. (Bobi vai) Isso. O outro menino (que interrompe dizendo se chamar Nico) fica ali, ao lado do Junior. Tá bom. (continua organizando) Vocês (apontando para Marcinha e Ritinha), entrem atrás deles e você (apontando para Pedrinho) fica ao lado do Nico. Ótimo.

MEL: A gente precisa saber se orientar no trânsito. Os pedestres andam na calçada, mas quando estamos de carro, moto ou bicicleta, temos de ir pela direita. Vocês sabem qual lado é o direito?

Todos em coro respondem que sim.

MEL: Muito bem! Apontem para a direita então.

Confusão geral. Cada um aponta para um lado. Mel coloca as mãos na cabeça.

MEL: Vamos ter mais trabalho do que eu pensava. (ela fica na frente do grupo, de costas para eles, levanta a mão direita). Esse é o lado direito. Para cá é a direita de vocês. Entenderam?

Todos respondem em coro que sim.

MEL: (já virada para eles) Vamos ver se entenderam. Quando eu gritar “já”, todos pulam para a direita. Certo?

Todos sinalizam que sim.

MEL: Atenção: “JÁ”

Todos pulam para a direita, menos Nico, que pula para a esquerda. Os outros fazem a maior festa rindo dele.

MEL: Não Nico! Você pulou para o lado errado. Isso no trânsito quer dizer que você está na “contra-mão”. No lado errado. O trânsito é organizado para que todos sempre saibam para que lado seguir. Imaginem se cada um fosse para o lado que quisesse. Ia ser a maior bagunça.

MEL: Vamos tentar de novo. Agora todos pulam para a esquerda, ou seja, contra-mão. Entenderam? Quando eu falar “já”, todos viram para a contra-mão.

Todos se concentram. Nico faz cara de confiante.

MEL: Atenção: “JÁ”!

Todos pulam para a esquerda, menos Nico, que, desta vez, pulou para a direita. Todos riem de novo. Nico se zanga e pergunta.

NICO: Ah! Por que eu tenho de aprender essa bobagem de direita, contra-mão,  blá blá blá, pra que saber isso?

MEL: Deixa eu tentar explicar de outro jeito. Presta atenção! (chamando) Ritinha, faz favor, pega a motoca do Nico e fica ali (apontando para frente e direita), virada para cá!

RITINHA: (já no local, sentada na motoca) Aqui?

MEL: Isso! Espera aí. (chamando) Junior, pega seu “carrão” e fica ali no ouro lado (apontando para o lado contrário, onde ficam de frente um para o outra).

Junior vai para o lugar indicado.

MEL: Olha bem Nico! Imagine uma rua, sem sinalização nenhuma. Sem placa. Sem guarda. (Nico faz cara de quem tá imaginando) De repente aparecem dois veículos, um de cada lado da rua. Como é que eles vão saber pra que lado que cada um tem de ir? Olha só! (para Junior e Ritinha, que estão à frente da turma, em lados opostos) Podem seguir em frente, cada um na sua direita.

Junior e Ritinha fazem como se estivessem trafegando, e se cruzam, cada qual na sua direita.

NICO: (observando) Agora entendi. Se não souber pra que lado tem de ir, vai ter peixada.

PEDRINHO: Peixada? Não to vendo peixe nenhum aqui.

MEL: (explicando) Não é isso Pedrinho. É que dependendo da região em que a pessoa vive ela chama o acidente de uma forma. Uns dizem peixada, outros dizem batida, e por aí vai. Mas cada acidente tem seu nome certo. Pode ser colisão, choque, abalroamento, e por aí vai.

NICO: Você é muito sabida menina. Parabéns.

MEL: Que isso! Se eu pude aprender, vocês também podem. É só terem vontade de fazer as coisas certas.

BOBI: Mas e quando as coisas não funcionam, como gente vai aprender com elas?

MEL: Como assim?

BOBI: O semáforo aqui da praça não funciona, a gente não consegue aprender assim.

MEL: A gente tinha uma musiquinha pra isso lá no curso. Vocês querem aprender?

Todos concordam.

MEL: Vamos fazer uma roda juntos. É assim: “PAAAAARA ATRAVESSAR A RUAAA, COM SEGU...RANÇA, É ASSIM...SIM...SIM: VERDE SIGA...GA,  VERMELHO PARE...RE, E O AMARELO? O AMARELO? É ATENÇÃO. VIVA!” (paródia de “Atirei o pau no gato”).

Todos fazem a roda e cantam juntos várias vezes, se divertindo.

MEL: E tem outra, que fala sobre o uso da faixa de segurança para atravessar a rua, é assim:

A FAIXA DE SEGURANÇA, TEMOS QUE UTILIZAR. PARA ATRAVESSAR A RUA.  DAQUI PRA LÁ E DE LÁ PRA CÁ.  LISTA BRANCA E PRETINHA É ONDE EU VOU PISAR.  E O MOTORISTA PÁRA.  PARA EU PODER PASSAR. E O MOTORISTA PÁRA, PARA EU PODER PASSAR. (paródia de ciranda cirandinha).

Todos cantam em roda novamente.

MEL: Vocês estão de parabéns! Aprenderam fácil. Agora é só colocar em prática.

JUNIOR: Mas Mel, a gente ainda é criança. E vemos os adultos fazendo tanta coisa errada. No fim, de tanto que a gente vê errando, faz errado também.

RITINHA: É mesmo! Não vejo quase ninguém usar o cinto de segurança na cidade.

MARCINHA: O namorado da minha irmã usa o capacete no cotovelo, pra não estragar o penteado. Ele diz que só coloca quando vê a polícia.

MEL: Esse é outro grande erro das pessoas. Achar que tem de cumprir a lei pra fugir da polícia, pra não ser multado. Não é nada disso. As leis foram criadas para organizar as coisas, para facilitar nossas vidas.

NICO: Eu tenho um vizinho, que mora numa casa bem grandona. Ele fez aniversário de 15 anos e o pai dele deu um carro de presente. Ele falou, que o pai disse que o dinheiro pode comprar tudo.

MEL: Mas ele, além de estar errado, porque só se pode fazer a carteira depois dos 18 anos, também se esqueceu que seu rico dinheirinho não pode comprar outra vida, pois o filho dele só tem uma.

PEDRINHO: Mas Mel, o que a gente pode fazer para melhorar isso?

MEL: Olha, eu acho que nós temos que cobrar dos adultos. Temos que chamar a atenção deles quando vemos que eles estão errando. Temos que crescer fazendo as coisas certas.

RITINHA: Mel, sabe alguma outra musica?

MEL: Claro! Vocês gostaram de cantar?

Todos em coro respondem que sim.

MEL: Querem aprender outra?(Todos confirmam em coro)  Tá bom! Tem uma bem legal. É assim:

SE ESTA RUA, SE ESTA RUA FOSSE MINHA. EU MANDAVA, EU MANDAVA EDUCAR!  OS PEDESTRES E TAMBÉM OS MOTORITAS, SÓ PRA VER, TODO MUNDO RESPEITAR!  (paródia de Se esta rua fosse minha)

MEL: Legal! Parabéns! Vocês serão ótimos usuários do trânsito. Vamos continuar assim, cantando e fazendo a coisa certa.

Encerra com todos cantando uma das canções.
Fim.

Rogério Luís Bauer

Obs.: Por favor, informem os erros encontrados, para que eu possa corrigir. Obrigado.

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