sexta-feira, 26 de julho de 2013

PEÇA - ESCOLINHA DE PLACAS

Peça infantil (narrada) com temática de trânsito.

ESCOLINHA DE PLACAS

Personagens: Instrutora Chefe, Auxiliar, Placa 1, Placa 2, Placa 3, Placa 4, Motorista, Pedestre.
Cenários: Escola de placas (imaginária) e rodovia. É uma narração que vai sendo dramatizada.

Narração:
            Certa vez, quando viajava pela BR 364, rumo a Cuiabá, percebi que meu filho, de 5 anos, olhava atentamente para a margem da rodovia, e mudava de expressão cada vez que via uma placa de trânsito (vão passando algumas placas de advertência, representando o que os motoristas observam nas rodovias). Até que ele me perguntou de onde as placas vinham. Não pensei duas vezes e comecei a contar a ele a verdadeira história das placas de sinalização. Eu disse mais ou menos assim:
            Primeiro cenário, representando uma escolinha de placas de sinalização. Surgem quatro crianças representando aprendizes de placas de sinalização.
            Em um lindo lugar, quase inimaginável, habitavam seres maravilhosos, criaturas dotadas da mais pura bondade, viviam felizes, não sabiam de onde vinham, somente para onde iriam.
            Esses seres carregavam com eles uma grande responsabilidade, que era ao mesmo tempo a sua única missão: Salvar vidas.
            Então eles se preparavam para isso. Passavam seu tempo todo aprendendo, estudando e treinando, para que, quando chegasse a hora, eles soubessem realmente o que fazer para salvar vidas humanas.
            Mas a vida desses maravilhosos seres era dura. Bem cedinho eles aprendiam a se alimentar. Retiravam da natureza a força para suportarem seu tempo. Eles comiam e bebiam do Sol e do ar, somente isso lhes bastava. E passavam horas se alimentando de brisa e de calor. (as plaquinhas se colocam de braços abertos, cabeça voltada para o alto)
            Depois desse delicioso café, era hora de treinamento, pois precisavam ficar fortes, firmes. A rotina do mundo para onde iriam não seria nada fácil, então tinham de estar preparados. Havia uma treinadora muito rigorosa para isso, era como aqueles sargentões antigos do exército. (entra a auxiliar) Usava um apito e exigia um número infinito de repetições para cada exercício. Nossas criaturinhas quase não aguentavam tanto esforço, mas eram muito disciplinadas, sabiam que precisavam ter força para enfrentar seu destino. E a sargentona não dava tregua, com seu apito assustador ela comandava, e comandava, e comandava, até que, quando parecia querer parar, começava tudo de novo, e mais exercícios, e mais, e mais, e muito mais, até que finalmente chegava a instrutora chefe. (entra a Instrutora Chefe)
            Com um ar de austeridade, sua simples chegada já representava o sinal de saída para a sargentona, a qual sempre tirava uma última casquinha com seu terrível apito.
            A instrutora era séria, nunca sorria. Por mais que recebesse o carinho e a admiração de nossas aprendizes de plaquinhas. Ela sentava e passava muito tempo explicando coisas do mundo dos homens, coisas da natureza para onde elas seriam mandadas. Ela contava coisas boas, coisas tristes, coisas alegres, coisas estranhas, enfim, ela tentava preparar da melhor forma possível, para que suas alunas fossem boas na tarefa de salvar vidas.
            Depois de conversar muito, a instrutora ensinava alguns movimentos, os quais as placas devem executar no seu trabalho. Ela demonstrava com seus graciosos braços alguns sinais, ao mesmo tempo que mostrava como os seres humanos as veriam no mundo deles. (a Auxiliar entra com um mural cheio de placas, para a Instrutora demonstrar as plaquinhas)
            Algumas plaquinhas seriam sinais de regulamentação, como as que indicam o sentido para onde seguir, como a placa de SENTIDO DUPLO, para as ruas com duas mãos de direção.  Depois mostrava a de SIGA EM FRENTE, ou a de SIGA EM FRENTE OU À DIREITA, OU A ESQUERDA, ela sempre se atrapalhava um pouco ali, mas no final sempre era entendida. Também mostrava as placas que orientavam a proibição de dirigir naquela direção, como a de PROIBIDO VIRAR A ESQUERDA, por exemplo, pois quem fizesse isso daria de encontro com os veículos que vem em sentido contrário. E assim ela mostrava outras placas, como as que PERMITEM ESTACIONAR, ou que PROIBEM O ESTACIONAMENTO. Sempre dizendo que tudo isso é para melhor organizar o trânsito, para deixá-lo mais seguro e salvar vidas. As plaquinhas sempre ouviam tudo com muita atenção.
            A instrutora também sempre mostrava as placas de advertência, que são importantíssimas, principalmente nas rodovias, pois elas servem para comunicar ao motorista tudo que o espera pela frente. Desde alertas sobre CURVAS, que podem ser perigosas, até a informação de LOMBADAS, PONTES, HOMENS TRABALHANDO, PISTA ESCORREGADIA, e muitas outras. Tudo para preparar o motorista para bem conduzir seu veículo no seu trajeto. (saem a Instrutora e sua auxiliar)
            Depois das aulas de sinalização, e dos exercícios rigorosos que tiveram cedo, as plaquinhas novamente iam se alimentar, com Sol e Ar, brisa e calor. Voltavam a cabeça para o céu, fechavam os olhos, deixavam a luminosidade solar entrar por seus poros, ao mesmo tempo em que absorviam o mais puro ar, o qual trazia também consigo toda a umidade necessária para saciar sua sede.
            Após o longo dia de trabalho, era hora do merecido descanso. Ali mesmo ficavam, ali mesmo deitavam, ali mesmo dormiam. Escurecia... Amanhecia... E ali mesmo estavam. E despertavam.
            Antes mesmo de iniciarem a rotina diária, a instrutora chefe chegou com um edital na mão. As plaquinhas ficaram alvoroçadas, pois sabiam o que aquilo significava, era a convocação de mais uma delas para o cumprimento de sua missão: Salvar vidas. Juntaram-se próximas da instrutora e ouviram atentamente a leitura do edital, que dizia: "Pelo presente instrumento, convoco, para a função vital de advertência sobre curva acentuada à frente, a plaquinha, hoje promovida a condição de Placa, a apontada pela instrutora chefe..." Todas esperavam com ansiedade, não tinham nomes próprios até  o momento da convocação, a instrutora era quem indicava a mais preparada para a missão.
            Sem qualquer sinal de emoção, a instrutora apontou e destacou a plaquinha escolhida. As outras a abraçaram, beijaram, sorriram na sua volta, e, aos poucos, se despediram, para que ela recebesse as instruções finais, antes de seguir para o mundo dos homens.
            Estando só a plaquinha escolhida, a instrutora, juntamente com sua auxiliar, fazia os últimos preparativos, arrumavam, ajeitavam, acariciavam a feliz plaquinha. Até o momento em que ela recebia sua linda placa de advertência, com a qual ela indicaria aos motoristas a existência de curva acentuada à frente, para que eles pudessem saber que tinham de diminuir a velocidade. Com isso ela cumpriria sua missão, e salvaria muitas e muitas vidas.
            A instrutora, então, fechou os olhos da antes plaquinha, e agora mais nova placa. (muda o cenário, passa a representar uma rodovia) O tempo se transformou, o universo conspirou e o lugar onde a placa se viu, quando então abriu os olhos, era outro. Ela se encantou. Adorou. Era muito mais bonito do que os mostrados nas suas aulas. Tinha muito espaço, mato, muita luz, muito ar. E ela finalmente conheceu a estrada, da qual tanto tinha ouvido falar. Ficou tempos a contemplar tudo.
            Mas logo começou o cumprimento de sua missão, ouviu o barulho de um carro que se aproximava, estava rápido. Ela então, muito feliz, mostrou-se, indicando o que teria pela frente. Ficou maravilhada quando percebeu que o carro diminuiu a velocidade. Adorou a sensação de salvar vidas em perigo. Logo passou uma moto, ela fez a mesma coisa, e assim foi sua rotina. Ao final do dia ela estava que não se aguentava de orgulho de si mesma.
            Por um bom tempo ela só experimentou alegrias, algumas vezes ela se assustava, pois alguns engraçadinhos não diminuíam a velocidade depois de vê-la, e tomavam bons sustos com isso.
            Mas nem tudo eram rosas na vida de nossa placa. Os dias eram quentes. O Sol não tinha dó dela. Ela já sabia, tinha treinado, mas no mundo dos homens era muito pior, parecia que os raios solares eram contaminados. O ar também parecia não ser tão puro, até doía quando ela se alimentava dele. Que calor! Assim ela pensava.
            Para piorar a situação, ela, que sempre era limpinha e cheirosinha na escola, volta e meia era vítima dos maus educados da estrada. (surge m menino e faz pipi ao pé da placa) Ela odiava quando isso acontecia.
            Quando não era o calor do dia, era o frio da noite, aliado ao seu medo. (escurece) Assustava-se com qualquer coisa. Mas sabia que tinha de ser forte, pois estava sozinha ali. E ajudava aos homens, mesmo na solidão da noite. (passa um carro no escuro)
            E assim seguiam seus intermináveis dias de trabalho. Ajudando a salvar vidas. Ela ficava muito feliz com isso.
            Um dia aconteceu algo que a deixou muito triste. Um carro que passava por ela resolveu parar, dentro havia dois homens com cara de bandidos. Eles então desceram e começaram a atirar nela, até descarregar seus revólveres. Ela ficou toda perfurada, danificada e, pior de tudo, muito triste, pois não entendia o porquê daquilo. Ela estava ali para ajudar, para salvar vidas. Nunca recebera um beijo ou olhar meigo que fosse por isso, mas ser agredida foi muito doloroso para ela.
            Mesmo assim ela continuava sua missão. Se achava um pouco feia depois daquilo, mas seguia firme. Mostrando os perigos aos homens, ajudando a salvar vidas.
            O tempo foi passando, o calor muito intenso, não chovia há um bom tempo e tudo estava muito seco. Outro acontecimento deixou ela muito triste. Um motorista que por ali passava jogou um toco de cigarro aceso bem perto dela. O fogo foi instantâneo. Queimou tudo por ali, até parte dela. Sua comoção foi grande. Ela, que já se achava feia, ficou pior ainda, perfurada e queimada. Mas, mesmo assim, seguia firme, salvando vidas, orientando as pessoas.
            Quando ela achava que nada poderia ser pior, mais uma vez se surpreendeu com a maldade humana. Um rapaz que passava por ali, sem motivo algum, vendo a fragilidade da pobre placa, passou a chutá-la, até que ela não resistiu e quebrou.  O homem foi embora. Ela ficou ali, quebrada, mas tentando, ainda, cumprir sua missão.
            Mas isso já não era mais possível. Ninguém mais enxergava sua sinalização. E lá estava ela, perfurada, queimada, quebrada, além de ter sofrido com o calor, o frio, a chuva, a poluição... Ela não servia mais para aquilo... Seu fim chegou.
            Em um momento no qual os homens não enxergam, ela é levada, não serve mais para a função, não salva mais vidas. Então ela se vai. (A Instrutora e a Auxiliar entram e a carregam de volta para a escolinha)
            Vai desfigurada, chega ao seu lar, desfigurada, mas amada, recebida com o maior carinho por todas as outras placas, pois ela foi uma heroína, cumpriu sua missão. Salvou centenas de milhares de vidas. Ela ali vai terminar seus dias, e outra, logo irá substituí-la no mundo dos homens, esperando, quem sabe, uma melhor sorte e mais respeito.
            Assim contei ao meu filho...

Fim.

            Rogério Luís Bauer

Obs.: Por favor, informem os erros encontrados, para que eu possa corrigir. Obrigado.

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