Palavras não ditas
Personagens
Prudêncio (um pescador)
Emerson (jovem acidentado)
Cenário: Uma cadeira deitada ao centro, um cabide com
alguns figurinos ao fundo e à direita do palco.
O espetáculo começa com um foco de luz somente no
pescador. É noite, ele está falando sozinho.
Prudêncio: Nossa, hoje a noite tá ruim pra peixe... Nada,
nem uma beliscadinha... Só muriçoca na volta (se tapeia pra espantar os
mosquitos, o que vai se repetir eventualmente)... Assim não tem jeito... E o
Benedito ainda me deixou na mão, falou que viria pescar comigo... Cadê? Mulher
não deixou! Besta... Mulher nenhuma manda em mim, já falei para a minha, não
venha me dar ordens... É só olhar que já sei, nem precisa mandar... (ri
sozinho) Tá beliscando! Opa, agora vem! (puxa a linha, mas perde a corrida,
tira o anzol sem isca). Droga, perdi de novo! É esse lugar aqui, primeira vez
que venho, até pegar a manha... (joga a linha de novo) Vamos ver agora se tenho
mais sorte... Preciso pegar algo, foi um sacrifício chegar aqui, descer esse
barranco (olha para trás), só de pensar já canso... Nem é bom pensar, vou ter
de subir... Bom levar algum peixe pelo menos...
Ouve
um barulho, se assusta, levanta... luz no centro do palco, jovem deitado na
cadeira, representando um carro capotado. Prudêncio se aproxima e observa
assustado.
Emerson: (fraco) Me ajuda, socorro, me tira daqui, por
favor...
Prudêncio: (assustado) Meu Deus, como você foi parar aí?
O que eu faço? Nossa! Não tenho nem telefone!
Emerson: Me ajuda, estou com muita dor! Minha perna está
presa, não consigo mexer o braço! Me ajuda!
Prudêncio se aproxima, tenta puxar o jovem, que grita de
dor! Prudêncio se afasta”
Prudêncio: Você está preso mesmo, não consigo tirar você
daí! Acho que nem é bom tentar, posso piorar a sua situação, melhor chamar
alguém! Vou na estrada esperar ajuda! (para o público) Nossa subir esse
barranco todo! (ao rapaz) Já volto1
Emerson: Não me deixe sozinho, por favor! Estou com medo!
Prudêncio: Preciso chamar ajuda! Não sei o que fazer!
Emerson: Procura meu celular aqui, no meu carro, por
favor!
Prudêncio: Que carro! O que sobrou dele você quer dizer!
Prudêncio
e Emerson vão até o cabide, trocam de roupa e vem fazer orientações sobre
socorro a acidentados, entrando em outros personagens.
Prudêncio: O atendimento imediato é importante, porém a
atuação deve ser correta, para não piorar o estado da vítima.
Emerson: Cuide de sua segurança - O veiculo deve estar
posicionado em um local seguro e somente desembarcar pessoas que tenham
condições de ajudar.
Prudêncio: Sinalize e isole o local do acidente - Use
triângulo, galhos de árvores ou outros objetos que devem ser colocados a uma
distância segura do local.
Emerson: Não tome nenhuma atitude antes de examinar -
observe bem o acidente para melhor se informar e saber o que fazer, além de
prestar melhores esclarecimentos ao atendimento médico.
Prudêncio: Se estiver escuro não use fósforos ou qualquer
objeto inflamável - No caso de vazamento de gases pode provocar incêndios.
Emerson: Peça ajuda - Evite agir sozinhos, principalmente
na remoção ou movimentação de veículos ou objetos pesados. (volta)
Prudêncio: Neste caso, em que o carro caiu de um
barranco, o melhor a fazer é chamar a ajuda especializada, ligue para um dos
números: da PRF 191, da PM 190, do BM 193 ou SAMU 192. Lembre ao menos de um
dos números, pois eles repassaram o caso para quem poderá agir melhor.
Ambos
voltam aos seus personagens.
Prudêncio: (após achar o celular) Achei! Vou ligar!
Emerson: Liga para minha mãe primeiro! Quero falar com
ela! Me desculpar!
Prudêncio: Depois, primeiro vou chamar ajuda. (se afasta
para ligar)
Emerson
levanta, vai até o cabide, coloca um vestido, se transforma em sua mãe.
Emerson: Meu filho, não corre, já disse para você ir
devagar com esse carro! Ah! Por que o Demétrio te deu essa porcaria! Você é
muito novo para dirigir!
Entra
Prudêncio vestido de Demétrio.
Prudêncio: Que isso minha véia! Ele é macho, e tem idade!
E tirou carteira de motorista também, esqueceu?
Emerson: Eu sei! Mas quem disse que um pedaço de papel
coloca juízo nas pessoas? Se todos que tem habilitação fizessem o que
aprenderam na auto escola certamente não teríamos tantos acidentes por aí.
Prudêncio: Isso tu tem razão minha véia, mas ainda não
inventaram uma injeção de educação, pra aplicar no povo, então vamos aprendendo
aos poucos, pagando pra ver...
Emerson: É... Mas esse preço tem sido tão alto! Deus me
livre imaginar que algo aconteça com nosso filho! Ele é tão jovem, bom nem
pensar. Que Deus o proteja.
Prudêncio: Deus nos protege véia, mas cada um tem de
fazer sua parte, todos nós... (volta)
Emerson: Ainda ontem pensei nisso! Nos planos que fizemos
juntos! Ele ainda criança, me revelou que sonhava ser médico, ajudar a salvar
vidas, curar os doentes, aliviar as dores das pessoas... Tão bom que é nosso
filho! (volta)
Prudêncio: Pronto, liguei para a PRF, contei o que
aconteceu, onde estamos e como você está... Vão trazer ajuda, mas como estamos
meio longe, podem demorar um pouco... Me pediram pra ficar com você...
Emerson: Obrigado! Como é seu nome?
Prudêncio: Prudêncio. Prudêncio da Silva. E o seu?
Emerson: Emerson. Emerson Fitipaldi de Almeida.
Prudêncio: Hum! Você pode falar? Contar como aconteceu o
acidente?
Emerson: Acho que sim! Não aconteceu nada de estranho, de
anormal, sei lá! Eu vinha dirigindo, primeira vez nessa estrada! Acho que
corria um pouco demais, tinha uma curva, vi a placa, diminui a velocidade, mas
acho que não foi o suficiente, perdi o controle, saí da estrada... E estou
aqui...
Prudêncio: O barranco é alto, poderia estar morto agora!
Emerson: Eu sei! Pelo menos fiz um novo amigo!
Prudêncio: Não! Eu disse que eu poderia estar morto!
Imagina se capota em cima de mim... Daí esse seu novo amigo estaria era aí
embaixo mortinho da silva...
Emerson: Ah! Eu queria rir, mas não consigo... Tá me
faltando ar já... Me faz um favor, liga para minha namorada... Quero dizer algo
que ainda não tive coragem, enquanto ainda é tempo...
Prudêncio: Como é o nome dela?
Emerson: Carmem.. Tá salvo aí na agenda como Amor!
Prudêncio: (enquanto procura) Hum que lindo! Amor! Minha
esposa eu chamo de Dona Encrenca mesmo... Brava!!! Precisa ver! Quando tá
naqueles dias prefiro pescar... Evitar confusão... Achei... Ligando... Caixa
postal... Vou tentar de novo! (se afasta, coloca vestido, volta como namorada
do Emerson)
Emerson
levanta, coloca a cadeira em pé. Prudêncio senta na cadeira. Emerson se ajoelha
na frente de Prudêncio.
Emerson: Amor! Engraçado, sempre te chamei de amor, mas
nunca disse que te amo. Não que faltasse oportunidade, mas é que eu estava
esperando o momento mágico, aquele em que você tem a mais absoluta certeza de
que encontrou a sua companheira para a vida toda. Falar por falar não combina
comigo. Sei que você sempre quis me ouvir dizendo isso... Você mesma já disse
eu te amo para mim tantas vezes, e ficava me olhando... esperando que eu
falasse também mas eu só dizia idem... idiota (risos de ironia).. Me perdoa
amor... Por ter sido imprudente, por dirigir muito rápido, por não respeitar a
estrada, por não respeitar a vida... Ah, Eu Te Amo... (levantam, colocam-se de
frente para o público)
Prudêncio: A estrada comunica, ela diz ao condutor como
se comportar ao volante.
Emerson: Além da sinalização vertical, das placas, também
existem as faixas pintadas, a sinalização horizontal.
Prudêncio: Mas é importante ainda que o condutor conheça
seu percurso, principalmente quando viaja nele pela primeira vez.. (volta)
Emerson: Veja mapas, informe-se, procure saber dos pontos
mais perigosos e da situação atual de conservação da pista. É importante
perguntar, é importante falar, você nunca sabe se terá outra oportunidade...
(voltam)
Prudêncio: Não atende! Deixei recado para retornar a
ligação. Como você está?
Emerson: Com sede. Mas acho que não consigo beber...
Prudêncio: Mas porque não? Você sofreu foi um acidente, e
não levou tiros pra ficar furado e vazar água...
Emerson: (tentando rir) É que estou perdendo as forças...
A água não iria passar... Ah deixa...
Prudêncio: Você quer ouvir alguma piada? Quem sabe ajuda
a passar o tempo...
Emerson: Pode ser... (levanta e troca de roupa)
Prudêncio troca de roupa, pega um microfone, inicia um
standap.
Prudêncio: Depois de bater na traseira de um
carro, o motorista se justifica com o guarda que registra a ocorrência:
– A mulher fez sinal que ia virar a esquerda… E não é que virou mesmo?
Emerson: Sábado pela manhã, um baita sol, o
sujeito põe a família no carro e decidem ir para a praia. Na estrada, porém,
ele é parado por um guarda.
– O senhor está multado – diz o guarda. – Está acima da velocidade permitida!
– Pô, seu guarda! Não faz isso comigo! O senhor vai estragar o meu fim de
semana!
– Não seja por isso! Eu vou fazer a multa com data de segunda-feira!
Prudêncio: Cientistas descobrem que após a
fermentação, a cerveja passa por uma transformação química e libera um composto
parecido com o hormônio feminino.
Deve ser por isso que quando tomamos uma cerveja:
– A gente começa a falar demais;
– Ri à toa;
– E dirige mal.
Emerson: Se 23% dos acidentes de trânsito são
provocados por motoristas alcoolizados, significa que 77% dos acidentes são
provocados por motoristas sóbrios. Então, por que é que se diz que dirigir
alcoolizado é mais perigoso?!
Prudêncio: Certo dia passando pela rua, um
cidadão dá de cara com um índio deitado no chão com um dos ouvidos para o
asfalto. O cidadão chega mais perto, e o índio diz:
– Corsa branco, ano 2006, placa CNQ-3054, modelo flex-power…
Impressionado com as informações do índio, o cidadão diz:
– Nossa Índio, apenas pelo tremor da terra você sabe de tudo isso??
O Índio, com um olhar de revolta, diz ao cidadão:
– Claro que não idiota, num ta vendo que eu fui atropelado!!!
Emerson: O sujeito esta dirigindo numa
estrada cheia de curvas. Uma mulher, vem dirigindo em sentido contrario. No
momento em que estão bastante próximos, ela põe a cara para fora e grita:
"Porco"!
O homem imediatamente responde:
"Vagabunda!"
E os dois seguem seu rumo.
Na curva seguinte o homem bate
violentamente contra um porco no meio
da estrada, e o carro capota.
Ah..... se os homens entendessem as
mulheres !!!
Voltam
as posições. Ouvem sirenes.
Prudêncio: Graças a Deus chegaram.
Emerson: Obrigado por ficar comigo!
Prudêncio: (gritando) É aqui em baixo, estamos aqui, rápido
por favor, venham! Estão vindo amigo... Amigo! Amigo... (Emerson não resiste)
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